O estudo da religião
Embora muitos autores clássicos tenham pesquisado e escrito sobre religião, seu estudo, como o das festas populares, não é considerado prioritário, especialmente em regiões subdesenvolvidas como o Norte e o Nordeste do país, onde diante da escassez de recursos disponíveis, há outros temas considerados mais urgentes. Religiosidade e festas populares parecem a muitos como tema de menor importância.
Para o povo, entretanto, religião e festas, são temas importantes na vida diária, como podemos constatar na realidade cotidiana das camadas populares. No Maranhão e em todo o Nordeste, religião e festas constituem assunto fundamental na vida de muitas pessoas. A rotina diária é interrompida muitas vezes ao longo do ano, pela organização ou a participação em diversas festas, que assinalam a quebra periódica desta rotina. Para os que as organizam, as festas não representam propriamente momentos de lazer, mas de trabalho, intenso e prazeroso, no seu preparo e na sua realização.
As religiões afro-brasileiras caracterizam-se pela presença de numerosas festas. O transe, as iniciações, as comemorações anuais das divindades, as obrigações do calendário de cada casa, são assinaladas com festas, toques, danças, cânticos e oferendas de alimentos especiais. Em São Luís, cada grupo afro-religioso organiza anualmente pelo menos cerca de uma dezena de festas, algumas maiores, chegando a durar uma semana ou mais, outras com um, dois ou três dias de duração. É comum que os participantes destas religiões assistam festas em sua casa e em uma rede de outras casas amigas. Assim, o ano se caracteriza, para o “povo-de-santo”, por uma sucessão de festas. Além das festas específicas do culto, muitos terreiros também fazem ou participam de diversas festas da cultura popular local, algumas incluídas no próprio calendário de cada casa.
Nossas pesquisas situam-se nos limites ambíguos entre religião e cultura popular e nas fronteiras entre os campos da