O estranho
Tempo psicanal. vol.42 no.2 Rio de Janeiro jun. 2010 SEÇÃO LIVRE Novas notas sobre "O estranho"1 New notes on "The uncanny"
André de MartiniI; Nelson Ernesto Coelho JuniorII
IDoutorando do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP
IIProf. Doutor do Departamento de Psicologia Experimental do Instituto de Psicologia da USP
RESUMO
Neste texto procuraremos expandir os horizontes da significação do conceito de estranho (geralmente tomado apenas enquanto alegoria do retorno do recalcado), procurando reabrir fissuras em torno da questão, ressaltando sua condição narrativa ou de experiência dos limites do eu, sua ligação com uma condição primitiva da constituição do psiquismo, a problemática da repetição que o acompanha, assim como suas vinculações ao tema do fetiche e da relíquia. Entendemos ser este um conceito que mereceria mais atenção dos psicanalistas - de fato, o texto de Freud obteve mais atenção e desenvolvimentos nos campos da linguística, da crítica e dos estudos literários, da filosofia e da estética, em geral, do que no próprio campo psicanalítico. Além de refletir o próprio funcionamento neurótico do recalque, a oposição familiar/estrangeiro remete também a distinções mais primitivas, tais como eu/não-eu ou dentro/fora. Destacamos ainda o romance Mar da fertilidade, de Yukio Mishima, através do qual apontaremos um aspecto singular da experiência de leitura; além desse, constitui um parêntese especial a questão do fetiche e da relíquia, analisados aqui pelo vértice do estranho.
Palavras-chave: unheimlich; Freud; fetiche; Mishima.
ABSTRACT
The present paper expands the horizon of meanings associated with the concept of "the uncanny" (usually taken as an allegory for the return of the repressed).The narrative condition of the uncanny (or the experience of the limits of the ego), its relation to the primitive constitution of the psyche, the