O ESTADO ENQUANTO INSTRUMENTO PROVEDOR DA CIDADANIA
Para melhor esclarecer esse problema, tem-se que compreender a natureza das mudanças pelas quais passou o capitalismo nestas últimas décadas. A partir do início do século XX, o capitalismo foi organizado segundo o sistema fordista, o qual, segundo Harvey (2007), consiste num modelo sócio-econômico baseado em três pilares fundamentais: as corporações, o Estado e a força de trabalho. Tal modelo mantinha-se em equilíbrio, enquanto os grandes lucros auferidos pelas corporações possibilitavam ao Estado manter condições de bem-estar social aos trabalhadores, ainda que, muitas vezes como perspectiva a ser atingida. Durante o período fordista,
[...] a legitimação do poder do Estado dependia cada vez mais da capacidade de levar os benefícios do fordismo a todos e de encontrar meios de oferecer assistência médica, habitação e serviços educacionais adequados em larga escala, mas de modo humano e atencioso. (HARVEY, 2007)
Segundo Harvey (2007) no apogeu do período fordista, o Estado assumia uma variedade de obrigações. Por meio do controle de ciclos econômicos e uma combinação de políticas fiscais e monetárias, o Estado mantinha o equilíbrio entre a demanda e a produção em massa. Além disso, por outro lado, assegurava as condições de bem-estar para a classe trabalhadora, por meio de gastos com seguridade social, assistência médica, educação, habitação, entre outros benefícios sociais.
Com a transição do fordismo para o modelo de acumulação flexível, mais precisamente, após a segunda guerra mundial, houve mudanças nessa estrutura, fazendo com que o Estado fosse obrigado a se distanciar dos compromissos assumidos com a promoção do bem-estar social. As relações entre os três agentes que sustentavam o fordismo flexibilizaram-se e, assim, os ganhos sociais passaram a depender muito mais do recrudescimento do poder de mobilização dos trabalhadores do que do Estado.
A crise desse modelo de sociedade, a partir de