O erotismo f sico jo o cabral de melo neto
Faculdade de Letras
Disciplina: Literatura Brasileira 1
Análise poema João Cabral de Melo Neto.
História natural – Quaderna (1956-1959)
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O amor de passagem o amor acidental se dá entre dois corpos no plano do animal,
quando são mais sensíveis à atração pelo sal, tem o dom de mover-se e saltar o curral.
O encontro realizado, juntados em casal eis que vão assumindo o cerimonial
que agora já é difícil definir-se de qual: se ainda do semovente ou já do vegetal
(pois os gestos revelam o ritmo lumial de planta, que se move mas no mesmo local).
No fim já não se sabe se ainda e vegetal ou se a planta se fez formação mineral
à força do querer permanecer tal qual, na permanência aguda que é própria do cristal,
que não só pode ser o imóvel mais cabal mas que ao estar imóvel está aceso e atual.
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Depois vem o regresso: sobem do mineral para voltar à tona do reino habitual.
Vem o desistegrar-se dessa pedra ou metal em que antes se soldara o duplo vegetal.
Vem o difícil de- semaranhar-se mal, desabraçar-se lento dessa planta dual
que enquanto embaraçada lembrava um cipoal
(no de parecer uma sendo mesmo plural).
Vem o desabraçar-se sem querer, gradual, de plantas que não querem subir ao animal,
certo por compreender que o bicho inicial a que agora regressam
(já vão ao vegetal),
certo por compreender que o bicho original a que já regressaram desliados, afinal,
não mais se encontrarão no palheiro ou areal multimultiplicado de qualquer capital.
O poema contém duas partes de oito estrofes poéticas cada, com quatro versos cada estrofe.
Esse poema como os demais de Quaderna tem como tema a figura feminina, é sobre um erotismo físico de dois corpos humanos, ou a relação entre duas pessoas.
O poema pode ser um exercício das experienciações tácteis, nesse sentido ele é uma abstração.