O desafio de lotar a casa
Há algum tempo eu brincava que ser Secretário da Cultura às vezes é mais difícil que ser Secretário da Saúde. Por que?
Porque todo mundo sabe o que é um bom atendimento em saúde: é ter lugar suficiente para os pacientes, sem filas e sem deslocamentos absurdos; é ter atendentes cuidadosos e capacitados; é ter cirurgiões que não esqueçam pinças dentro do corpo dos pacientes; é ter atividades de prevenção tanto quanto de cura; é cuidar da desinfecção de modo a evitar contaminações hospitalares e assim por diante...
Na cultura é tudo mais complicado...
Há um diagnóstico muito comum que tem freqüentado os jornais desde a posse da Ministra Ana de Holanda, e que é o da “Fome de Cultura”. Este diagnóstico geralmente se baseia em dados sobre as práticas culturais da população. O que os dados nos dizem: que mais de 70% da população nunca foi a um museu, a um concerto de música clássica, ......
Com base nesses dados, conclui-se que falta oferta de cultura e arte para a população, principalmente a população de renda mais baixa ou moradora de bairros mais distantes. Daí a idéia de que há “fome de cultura” – o que os economistas chamariam de “demanda reprimida” ou não satisfeita.
Mas há o outro lado da moeda que não é muito divulgado e que é o contrário deste e que aparece:
O fechamento das bibliotecas municipais e ligadas ao Minc;
Espetáculos com cinco gatos pingados na platéia;
Equipamentos (tais como salas de cinema) fechados e abandonados..
Este problema - que nós vamos chamar de falta de demanda – está se tornando tão comum hoje, que para muitos autores, o grande desafio para os produtores culturais é o de encher a casa. Em Bragança, várias ofertas do Circuito Cultural Paulista tinham público diminuto – espetáculos de dança, espetáculos de música erudita fora do Festival de Inverno etc.
Como o gestor cultural muitas vezes não encontra uma demanda organizada, definida sobre a ação municipal