O cristianismo e seus valores
Jesus não representa um momento único na história humana, assim como as Igrejas gostariam que fosse, monopolizando-o em seu próprio benefício
Seria muito errado pensar que a fé cristã é destituída de valores. A fé cristã, assim como se apresenta na Igreja Católica ou Ortodoxa e também nas Igrejas Evangélicas, tem um valor indicativo, um valor conservativo e um valor pedagógico: são três grandes valores que analisei brevemente, pois constituem o ponto alto e ao mesmo tempo o ponto fraco das Igrejas. Entendo por valor indicativo o poder que a fé tem de indicar novos horizontes e novas possibilidades, tanto no campo da experiência quanto no campo da intuiçãoO celebre filósofo Karl Popper na sua “Autobiografia intelectual”
(Cultriy; SP; 1986; p,58)escreve: “Não deixa de ser verdadeiro que não pode haver fase crítica sem uma fase dogmática anterior; fase em que algo se forma: uma expectativa, uma regularidade comportamental; de maneira que a eliminação do erro possa começar a atuar sobre ela”. Popper considera o pensamento dogmático (por exemplo, as verdades da fé cristã) como pensamento pré-científico e explica melhor suas ideias: “Assim a criação musical e a científica pareceu ter isso em comum: o recurso ao dogma ou ao mito, como trilha construída pelo homem, ao longo do qual nos dirigimos para o desconhecido, explorando o mundo e, a um tempo, criando regularidades ou regras e investigando regularidades existentes” ( pg.65).
Seja-nos de exemplo o dogma cristão da ressurreição do corpo córneo de Jesus Cristo como protótipo de ressurreição física dos corpos, em seu estado mortal, ou assim chamado “último dia”. O ponto de partida utilizado pela Igreja podia bem ser esse mesmo, para depois chegar à ideia de sobrevivência e, talvez, de volta da pessoa. Então, a partir da doutrina da ressurreição (que poderia ser até uma doutrina dogmática) poderíamos ensaiar novas formas de ordenar ou simplesmente pensar a vida, explorando novas