o corvo
Por trás é melhor
Embora teoricamente as lições de Poe em sua A filosofia da composição não tenham sido escritas tendo em vista a análise de um texto nem a escrita de uma resenha, mas sim a escrita de um texto literário, façamos das suas palavras as nossas — comecemos por lá, por trás, pelo final, pela análise do final do livro: pela tradução de O corvo de Machado de Assis.
Conheci o poema do Poe por meio da tradução de Machado de Assis. E gostei bastante. Gostei muito exatamente pelo efeito que me causou. Lembro que fiquei extático e estático ao fim da minha leitura. Ou seja, tanto Poe, com seu poema, quanto Machado de Assis, com sua tradução do poema, conseguiram a proeza de me emocionar.
Segundo o próprio Poe n’A filosofia da composição, “não é preciso demonstrar que um poema só é um poema se ele conseguir nos afetar intensamente, elevando a alma”. Ponto para o poema, para Poe e para Machado de Assis — por sua tradução —, porque todos cumprem, creio eu, o objetivo primeiro: emocionar o leitor.
Tudo leva a crer que Machado de Assis, ao traduzir O corvo de Poe, objetivava maiormente reconstruir o poema de tal forma que o prazer da leitura permanecesse em sua transposição para a língua portuguesa. Assim, a tradução de Machado compromete — provavelmente de maneira consciente — a estrutura original do poema, e muito, em detrimento dessa “excitação ou elevação”, desse “grau de efeito realmente poético”, dessa “intensidade”, sobre os quais Poe discorre tanto.
Mas que “efeito imensamente importante que deriva