O cortiço: morte de firmo

Assassinato de Firmo por Jerônimo
Português de seus trinta e cinco a quarenta anos, alto, espadaúdo, barbas ásperas, cabelo pretos e maltratados, com os olhos de boi de carga, exprimia tranquila bondade. Muito trabalhador foi contratado por João Romão para trabalhar em sua pedreira. Era dedicado ao que fazia, e prometeu melhorias para o negócio de Romão, que além de dono da pedreira era proprietário de um cortiço, assim oferecendo um quarto de número 35 à Jerônimo após sua contratação. Jerônimo era casado, a mulher chamava-se Piedade de Jesus, teria uns trinta anos, boa estatura, carne ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes poucos alvos, mas sólidos e perfeitos, cara cheia, fisionomia aberta, desabotoando-lhe pelos olhos e pela boca numa simpática expressão de honestidade simples e natural. No dia seguinte a contratação, Jerônimo e sua mulher apresentavam- se no cortiço por volta das sete da manhã, para tomarem conta da casa alugada. Jerônimo viera da sua terra, com a mulher e uma filhinha ainda pequena, tentar a vida no Brasil. Trabalhou durante dois anos em uma fazenda, tendo que sujeitar-se a viver junto dos negros e escravos, encurralado como uma besta, sem aspirações, nem futuro, trabalhando eternamente para outro. Não quis submeter-se a tamanho sofrimento e resolveu largar essa vida e atirar-se para a corte, onde lhe diziam os patrícios, que todo homem bem disposto tinha um bom futuro. E assim devorado de necessidade e privações, meteu-se a quebrar pedra em uma pedreira, mediante um salário miserável. A sua situação financeira era precária, para ajudar nas despesas sua mulher lavava e engomava, mas sua freguesia era pequena e pagavam mal. O que os dois ganhavam com muito esforço só dava para pagar o quarto da sua estalagem e para não morrerem de fome. Jerônimo, porém, era perseverante, observador e dotado de certa habilidade. Em poucos meses se apoderava de seu novo cargo e, de quebrador de pedra, passou a fazer paralelepípedos e, assim a