O controle da inflação no aprofundamento da dependencia
O neoliberalismo na América Latina (sobretudo no Brasil) não foi apenas aplicação ideológica do Consenso de Washington, mas talvez uso cínico do consenso neoliberal diante do bloqueio estrutural terminal do Estado desenvolvimentista.
A trajetória intelectual de Fernando Henrique Cardoso e de boa parte de sua equipe trata-se da aceitação da impossibilidade do “deslocamento” democrático como ponto de partida. De fato, não precisamos dar conta de uma conversão, mas de uma opção de poder que assumiu como referência a ligação aos fluxos da globalização e às novas bases materiais do regime de acumulação pós-fordista. É a vontade de captar esse deslocamento que permitiu que Fernando Henrique Cardoso usasse o consenso monetarista para tentar um projeto de integração aos fluxos da globalização pós-fordista.
A autonomia do projeto teve, é claro, um preço muito alto, mas não se pode negar, todavia, que os oito anos do governo Cardoso no Brasil tenham funcionado como período de transição para o primeiro governo de base popular na história do país (o governo Lula). Não se trata apenas da aceitação pragmática do desafio do controle da inflação. Como já foi amplamente esclarecido pelos economistas críticos, a moeda não é, de fato, a ultima instancia, mas a primeira, pois quando a sociedade como um todo não se apresenta mais como conseqüência do desenvolvimento, apenas a moeda tem alguma possibilidade de indicar mais-valia social.
A adoção de técnicas de estabilização monetária e de redução da inflação ocupa o horizonte. Os governos de Menem na Argentina representarão a adoção de políticas do mesmo tipo, mas aplicadas de modo mais radical. Nessa situação as técnicas de estabilização eram completamente ineficazes.
As políticas neoliberais produzem, contudo, o seu próprio impasse, pois não conseguirão construir as conduções para fixar as eventuais “conquistas” em termos de estabilidade monetária em um projeto capaz de