O confronto com o naturalismo
Pensar em Os Maias, em função da generalização da ambiguidade, da instauração da opacidade no romance, acaba inevitavelmente por conduzir o leitor ao encontro com a problemática do naturalismo, enquanto estética norteadora de uma grande parte da obra queirosiana, e também, em certa medida, deste romance, mas estética com a qual o autor se confronta em termos ambíguos a partir de um certo momento. Ora, o romance em questão vai representar um local por excelência dessa confrontação, correspondendo a um momento de interrogação do seu autor em relação ao naturalismo, gerador, portanto, de ambiguidade. [...]
São ou não são Os Maias um romance realista-naturalista? Ou, se preferirmos, ter-se-á Eça mantido fiel ao seu ideário estético naturalista neste romance?
É bem claro que não. Os Maias serão, como já dissemos, o grande romance de questionamento do naturalismo, de mudança de rumo do Eça naturalista. E é curioso como ele se apercebe do falhanço da sua obra enquanto projecto romanesco à maneira naturalista quando, em carta a Oliveira Martins, datada de Bristol, 12 de Junho de 1888, diz: «Os Maias saíram uma coisa extensa e sobrecarregada, em dois grossos volumes! Mas há episódios bastante toleráveis. Folheia-os, porque os dois tomos são volumosos demais para ler. Recomendo-te as cem primeiras páginas; certa ida a Sintra; as corridas; o desafio; a cena do jornal A Tarde; e sobretudo, o sarau literário. Basta ler isso, e já não é pouco. Indico-te, para não andares a procurar através daquele imenso maço de prosa.»(1) Para além da habitual subestimação da sua obra, típica de Eça, repare-se que são aqueles episódios mais fiéis a uma prática realista cuja leitura recomenda ao amigo, não sendo feita, note-se, qualquer alusão àquilo que, na época, deve ter provocado maior reacção por parte dos leitores, reacção que Eça esperaria, evidentemente - o episódio trágico do incesto. O que vale a pena ler em Os Maias é aquilo que mais abertamente se