o conceito de velhice
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I
S
T A
LATINOAMERICANA
DE
PSICOPATOLOGIA
F U N D A M E N T A L ano VIII, n. 1, mar/2 0 05
Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., VIII, 1, 86-95
O conceito de velhice: da gerontologia à psicopatologia fundamental*
Flávia Maria de Paula Soares
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É pertinente falarmos de um conceito psicanalítico de velhice? Este artigo pretende responder a essa questão analisando a concepção de velhice dada pela gerontologia – essa ótica multidisciplinar calcada nas ciências positivistas –, passando pela metapsicologia psicanalítica basicamente atemporal, até chegar à possibilidade oferecida pela psicopatologia fundamental, que talvez seja a única que faculte a abordagem da velhice sustentada na psicanálise pelo viés do phatos.
Palavras-chave: Velhice, gerontologia, psicanálise, psicopatologia fundamental * Este artigo só foi possível ser realizado com o apoio do CNPq.
ARTIGOS ano VIII, n. 1, mar/ 2 0 05
Como se pode definir a velhice? Como o último tempo natural da vida? Com base em qualidades psíquicas ou a perda de vigor físico? Ou com base em uma categoria social?
Certamente toda resposta a essa questão abarca uma particularidade sobre o que se pode chamar de velhice e, em parte, trata basicamente de sua descrição fenomenológica e de sua relação com a realidade.
Sob esse ponto de vista, a gerontologia – construção multidisciplinar nascida nas décadas de 1930 e 1940 e reafirmada na década de 1950 – aborda a velhice e o envelhecimento sob a concepção de um desgaste biológico natural, geral e gradual com desdobramentos psicossociais. Calcada nas ciências positivistas, sobretudo no modelo médico, utiliza-se do eixo orgânico e fisiológico para descrever as manifestações dos fenômenos do envelhecimento segundo uma cronologia estritamente definida e limitada no tempo, de maneira sintética e com a maior exatidão possível. Por ser uma disciplina multifacetada, já que o envelhecimento exige uma composição biopsicossocial, embora pretenda compreender o indivíduo em sua