O conceito de saúde e do processo saúde-doença
Essa concepção ainda subsiste no pensamento contemporâneo, apesar das transformações históricas de que foi alvo. Por exemplo, nas interpretações das doenças carenciais, infecciosas e parasitárias.
A hegemonia da interpretação mágico-religiosa não impediu o desenvolvimento da observação e da prática empírica, cuja acumulação resultou em sistemas teóricos empiricistas vinculados a uma concepção dinâmica da causalidade, identificável nas antigas medicinas hindu e chinesa. Nelas a doença era vista como o produto do desequilíbrio ou desarmonia entre os princípios ou forças básicas da vida, mas compreendia também a busca do reequilíbrio. Ou, nas palavras de CANGUILHEM (1978:20-1), "a doença é uma reação generalizada com intenção de cura".
Há, por assim dizer, uma naturalização da doença em que o ser humano deixa de ter papel passivo, podendo ativamente buscar diferentes procedimentos terapêuticos para a restauração de suas forças vitais.
Hipócrates, considerado o pai da medicina moderna, reconhecia a doença como parte da natureza, dando prosseguimento à vertente dinâmica, no processo gradual de transição da consciência mítica ao pensamento racional, a que se fez referência e no qual a filosofia grega teve papel fundamental. Para esse médico grego, a saúde era a expressão de uma condição de equilíbrio do corpo humano, obtida através de um modo de vida ideal, que incluía nutrição, excreção, exercício e repouso adequados.