O claro enigma de amar
AMAR, DE DRUMMOND DE ANDRADE
Tieko Yamaguchi Miyazaki (UNEMAT)1
Julieta Haidar (ENAH)2
Resumo : Talvez o título do poema Amar de Drummond de Andrade seja o responsável pelo entendimento eufórico do texto, claramente constatado na sua leitura inclusive por atores televisivos. Operacionalizando um pequeno corpo de pares conceituais, estudados por Greimas, as autoras pretendem demonstrar que tal orientação não se aplica à dimensão do enunciado uma vez que o poema é a expressão disfórica, não do sentimento do amor, mas da atividade que ele implica numa dimensão cósmica. Na enunciação, porém, ele se envolve numa ambiência emocional que lembra em certa medida poemas de Bandeira.
Palavras-chave: Drummond, disforia do processo amoroso, recursos metalinguísticos, denominação e condensação, isotopias gramaticais.
Abstract: Perhaps the title of the poem Amar by Drummond de Andrade is responsible for the euphoric understanding of the text, clearly evidenced in his reading even by television actors. By operating a small body of conceptual pairs, studied by Greimas, the authors intend to show that this orientation is a misnomer, since the poem is the dysphoric expression, not of the feeling of love, but of the activity that it implies, in a cosmic dimension.
Keywords: Drummond, dysphoria of the loving process, metalinguistic features, name and condensation, grammatical isotopies.
Amar, este poema de Drummond de Andrade, de seu livro Claro enigma, de
1951, juntamente com outro poema do mesmo autor, O enterrado vivo, d’ O fazendeiro do ar, de 1954, foram objeto de um ensaio publicado na Revista de Letras, da
Universidad de Puerto Rico, em Mayagüez, em 1975. Uma das razões de reunir em um mesmo trabalho poemas relativamente próximos quanto à publicação, mas aparentemente distantes quanto aos títulos, foi a disforia marcante em ambos, de enunciação contundente no segundo e amargurada no primeiro. A preocupação maior
foi