O capote
Assim vive até que as necessidades do tempo lhe pedem que adquira determinado bem. Após muito esforço e sacrifício, consegue o dito bem – que nomeia a história. Passa a ser elogiado pelos que zombavam dele, passa a se deliciar com a pequena conquista – a alma do personagem consegue, aqui, tomar um pequeno fôlego, sentir um pouco o gosto da dignidade a que todos almejamos. Mas eis que lhe roubam o bem. O desespero toma conta de si e, desarticulado, não consegue que se façam as diligências para recuperá-lo. Mais que isso, é tratado de forma desumana por um dito “figurão” que, na ocasião, quer impressionar e é esmagado pelo peso, pela grandeza dos títulos e da posição sociopolítica que este detém. Acaba morrendo, e este é o ponto crucial. Não parece aceitável que um ser tão medíocre, que se acostumou à mediocridade e passou por todo tipo de privações e humilhações sem rebelar-se, tenha a única fonte de dignidade tomada de forma tão inescrupulosa. Parece-me aqui que o espírito humano se irresigna contra tal fato, de forma que o protagonista retorna como fantasma buscando vendetta. E até aqui há a feição da mediocridade – não se trata de um fantasma que cause lá grandes estragos, ou que seja temido além do fato de ser uma alma penada – apenas passa a subtrair de