o capitalismo tardio
Gaudêncio Frigotto1
Como profissionais do campo educativo somos testemunhos ou estudamos ao longo de nossa formação as frequentes reformas de ensino em nosso país. Estas reformas buscam dar respostas a problemas ou supostos problemas no campo educativo e se materializam em concepções educacionais, mudanças na organização curricular no conteúdo, na forma de organização e nos métodos pedagógicos. Cada reforma tem implicações diretas sobre a vida escolar, o trabalho docente e, sobretudo, no tipo de formação humana – colonizadora e alienadora ou emancipadora.
Esse pequeno texto não pretende discutir as reformas educativas que se deram ao longo de nossa história e as mudanças que engendraram. O que nos interessa é entender o tempo presente que nos afeta e quais as concepções de educação que foram dominantes nas duas últimas reformas educativas que tem como base a noção de capital humano. Todavia, o presente tem elos com o passado, imediato ou mediato. Desta forma irei inicialmente sinalizar o contexto no qual surge o que se denominou “teoria do capital humano” e que influenciou a perspectiva da educação básica à pósgraduação no período da ditadura civil-militar que durou por duas décadas. Em seguida discutir porque esta
pseudo-teoria, num outro contexto histórico, amplia as
mistificações com as noções de sociedade do conhecimento, qualidade total, pedagogia das competências e empregabilidade e empreendedorismo no contexto doque a literatura denomina de capitalismo tardio2. Por fim assinalar as consequências desta
1
. Doutor em Ciências Humanas (educação) pela PUC de São Paulo e professor do Programa de Pósgraduação em Políticas Públicas e Formação Humana.
2
. O capitalismo tardio é entendido na literatura em dois sentidos muito diversos. O primeiro faz referencia a nações, como o Brasil, que tiveram longos períodos de colonização e de regime