O capital produz uma demanda por ordem e militarização
Patrick Granja e José Ricardo Prieto
Entrevista com a socióloga Vera Malaguti Batista
No final de outubro, a socióloga Vera Malaguti Batista — professora de Criminologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Secretária Geral do Instituto Carioca de Criminologia — falou em entrevista exclusiva ao AND na sede do ICC, no bairro de Santa Teresa, região central do Rio de Janeiro. Um dos assuntos abordados com mais rigor pela especialista foi a militarização de favelas e bairros pobres no Rio de Janeiro, processo que tem se expandido para outros estados, como São Paulo, onde a favela de Paraisópolis encontra-se ocupada pelas forças de repressão do velho Estado. Enquanto isso, no Rio, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) seguem impondo autêntico regime de exceção às populações dessas localidades pobres.
— Eu acho que esse projeto de militarização é um projeto de ocupação do Rio de Janeiro, é um projeto que está no imaginário conservador nacional há muito tempo, visto que o Rio sempre foi uma cidade rebelde. Várias tentativas já foram feitas no sentido de militarizá-la, como a operação Rio 1, operação Rio 2, 1964, 1961, com fins de reprimir a rebeldia ilustrada muito bem no século 19, com as rebeliões escravas. Como dizia o Brizola, o Rio é um tambor que ressoa para o resto do país. O que mais me impressiona é o fato desse processo de militarização acontecer justamente na democracia, com a cobertura total dos meios de comunicação e impedindo o trabalho heróico de veículos como o jornal A Nova Democracia. E ainda tem gente que fala: 'não, mas os moradores estão gostando'. Se isso é verdade, eu fico mais assustada ainda, porque então o morador está gostando de ser ocupado — alerta.
— A recepção desse projeto vem sendo ardilosamente construída pelos grandes meios de comunicação desde o fim da ditadura, quando o inimigo interno sai da