o candomblé
Fernanda Arêas Peixoto1
Universidade de São Paulo
RESUMO: Este artigo propõe uma releitura de Imagens do Nordeste místico em branco e preto (1945), de Roger Bastide, à luz de outros textos que ele publicou na imprensa paulistana, na mesma década de 1940. Trata-se de artigos que examinam a arte popular e a arte moderna, as cidades e a arquitetura, nos quais ele esboça uma reflexão sobre o barroco brasileiro, distinta das análises sociológicas do barroco que empreendera em seus ensaios de feitio mais acadêmico. O exame desse conjunto evidencia que, desde o momento de sua chegada ao Brasil em 1938, Bastide realiza pesquisas simultâneas sobre o barroco e sobre o candomblé. Esses dois grandes temas de interesse do autor, explorados lado a lado, longe de revelarem interesses divergentes, se entrecruzam, um esclarecendo o outro. E mais: o barroco não apenas constitui uma das matérias de análise de Bastide, como fornece elementos decisivos para que ele ajuste sua visada crítica.
PALAVRAS-CHAVE: Roger Bastide, barroco, imagens do Nordeste místico em branco e preto, artes e arquitetura, candomblé.
O volume Imagens do Nordeste místico em branco e preto, relato da primeira viagem de Roger Bastide (1898-1974) ao Nordeste brasileiro, permite acompanharmos as pesquisas iniciais realizadas pelo sociólogo francês no Brasil, que têm como foco o barroco e as religiões de matriz africana. Equilibrada entre a “ciência pura e o canto lírico”, a narrativa apresenta plasticamente, desde o título, as cidades de Salvador e de Recife, que ele descreve por meio de um “feixe de imagens”.
FERNANDA ARÊAS P EIXOTO . O CANDOMBLÉ (BARROCO ) DE ROGER BASTIDE
O tom do livro oscila de modo deliberado entre a narrativa de viagem – colorida por impressões subjetivas e estados de espírito – e a interpretação sociológica. Seu estilo híbrido e entrecortado (em que se mesclam experiência pessoal, descrição etnográfica e vocação literária),