O Brasil e seus dilemas
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Apontado em um levantamento feito pela Universidade de Campinas (Unicamp) como cientista social brasileiro mais citado nos trabalhos acadêmicos do país, Roberto DaMatta há muito vem refletindo sobre “o que faz do brasil, Brasil”. Com base em temas como Carnaval, jogo do bicho, piadas, músicas populares, futebol e trânsito, o antropólogo apresenta um retrato do rosto brasileiro em suas muitas faces.
Em Carnavais, malandros e heróis, publicado em 1979, e inspirado em sua vivência nos Estados Unidos, Roberto DaMatta discute vários paradoxos e tensões que constituem nossa maneira de ser – ou, como ele próprio diz, nossos “dilemas”. Por um lado, cremos ser importante respeitar a lei; por outro, achamos igualmente lícito recorrer ao famoso “jeitinho”. Gostamos de pensar no Brasil como um país democrático e igualitário, mas isso não quer dizer que não sejamos também altamente hierárquicos.
Como assim? Bem, imagine a seguinte situação: o filho de um empresário influente corta o sinal de trânsito a toda velocidade e é parado pelo guarda. O que você acha que vai acontecer em seguida? Como todos são iguais perante a lei, o rapaz será advertido e punido devidamente? Ou será que ele vai dizer um “Você sabe com quem está falando?”?
Para DaMatta, as chances estão com a segunda opção. Isso porque operamos com uma hierarquia que diz: “Eu sou igual a todo mundo até certo ponto; devido à minha rede de contatos, à minha família, eu mereço um tratamento especial”. É como um “direito” às avessas, concedido não pela lei, mas pela posição que o sujeito ocupa na hierarquia social. Perceba que DaMatta não está falando aqui apenas do poder econômico, mas do capital social, dos contatos poderosos que o sujeito pode acionar caso necessite.
Queremos uma sociedade legal, regida pela