O brasil que ri de si mesmo
Se você tivesse acreditado nas minhas brincadeiras de dizer verdades, teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando. Eu falei muitas verdades como palhaço, mas nunca desacreditei da seriedade da plateia que sorria. Charles Chaplin
O brasileiro tem a fama mundial de pertencer a um povo festeiro – misto de palhaço e mágico, sempre com uma piada pronta para tirar da cartola ou sacar da manga do paletó. Ao refletir sobre a formação do humor brasileiro, entendemos um pouco mais sobre o nosso país e a visão que nós fazemos do mundo. Observando os programas humorísticos, é fácil constatar que adoramos rir de nós próprios, fazer piadas com nossos problemas e dificuldades em várias áreas, abrangendo todo o território nacional e toda nossa história “pós-descobrimento”. Ou melhor, considerando também a chegada das caravelas portuguesas, episódio que tanto já serviu como cenário de peças teatrais e filmes hilários, como tema de letras de escolas de samba não menos engraçadas. Isso faz parte de nossa identidade e devemos nos orgulhar desta característica, que, em um contexto social mais amplo, pode e deve coexistir também com a abordagem séria da resolução dos variados problemas e dificuldades. O humor brasileiro, manifestação cultural de nosso povo, parece ter sempre estado atrelado às mudanças – muitas vezes rápidas - pelas quais a sociedade passou, sendo fruto do deslocamento social de significados frente aos contrastes e às influências das diversas culturas que deram origem à cultura brasileira. Na década de 1880, após a abolição da escravatura, a transição da monarquia para república propiciou uma enorme divulgação de textos cômicos sobre o regime anterior, algumas vezes carregados de rancor, que ridicularizavam-no e, de certa forma, ajudavam a dar uma nova feição ao país, fazendo coro ao discurso nacionalista de então que, devido às crescentes