o auto do curandeiro
(texto integral)
Personagens:
CURAndeiro
Velha
Pai agradecido
Doente
1ª Vizinha
2ª Vizinha
3ª Vizinha
Médico
Irmão do doente
Homem de meia idade, que se esforça por andar levemente curvado e vestindo fato de cor escura.
Mulher do povo, vestindo com certo conforto e adornada com vário objectos de ouro.
Homem de meia idade, de aparência robusta e vestindo como camponês abastado.
Um jovem mais ou menos tímido e muito embaraçado.
Mulheres do povo, vestindo aventais que utilizam para limpar e esconder as mãos com certa freqüência, e mais ou menos despenteadas. Calçam chinelos ou sapatos já muito velhos.
Homem alto, de óculos. Tipo médico da província, paciente e amigo.
Rapaz de vinte e cinco a trinta anos com ar inteligente e expressão sadia.
Cena:
Uma sala pobre, de estilo camponês, com três ou quatro cadeiras ordinárias, uma cómoda com uma imagem de Cristo e ainda um ou dois baús.
CURANDEIRO:
(falando sozinho enquanto remexe nuns sacos e desfaz embrulhos) Minha querida profissão!
Tiro as almas do inferno
Mas arranjo p’ró inverno
Inda me sobra p’ro verão.
(com ar de admiração)
Olha, também mandam pão!
Não é branco, é branquíssimo...
Tudo é bom que Deus aceite.
E mais dois litros de azeite
P’ra lanterna do Santíssimo!
Olha, aqui vem tudo junto.
Nem sei como não desmaio!
Toucinho, chouriço e paio,
Um pedaço de presunto
E as orelhas do defunto...
(agradecido)
Oh! Deus soberano e bendito,
Que me dás arte p’rá cura,
Que trazes tanta fartura
Que quase não acredito!
(orgulhoso)
E ainda o que é mais bonito,
É que minha inteligência,
Como acho poucas iguais,
Me faz ganhar muito mais
Do que os homens da ciência.
(enquanto fala, uma velha surge à porta de entrada com ar humilde)
VELHA:
Senhor mestre, dá licença?
É o senhor curandeiro?
Diz que não leva dinheiro...
Aceite esta recompensa,
Já que tratou da doença
Do meu desgraçado irmão
Que já lá foi no caixão;