O APARENTE ANTAGONISMO ENTRE O PRINCÍPIO DA LIBERDADE E O CONCEITO DE DEVER
Adriane Martins Matos² a_m_m_93@hotmail.com Natasha Felipe Frazão³ natasha.ff@hotmail.com 1. O DEVER COMO CONDICIONANTE DA VIRTUDE Kant inicia a Parte I da Doutrina dos Elementos da Ética tratando da aparente contradição existente no que concerne ao conceito de dever consigo mesmo, tendo em vista que a noção de dever requer que haja constrangimento, o que geralmente é motivado por vontade alheia a do indivíduo per si. Mas ele, então, explica que só se pode reconhecer uma obrigação à outra pessoa se, primeiramente, for reconhecida a obrigação a si mesmo, fato derivado da razão prática do indivíduo no seu próprio julgamento. A partir do momento em que o ser humano toma consciência do dever que estabelece com si próprio, pode ser tomado a partir de dois atributos: como um ser sensível e como um ser inteligível. O primeiro diz respeito a sua natureza humana e o segundo as relações moralmente práticas através da influência da razão. Apesar de sua personalidade, reflexo de sua liberdade interior, o ser humano é passível de submissão a obrigações externas e internas, estas últimas condicionadas pela síntese da humanidade em sua própria pessoa.
É necessário haver conformidade entre as máximas de vontade do indivíduo e a dignidade da humanidade representada em si, o que prevê uma postura regida por princípios e o controle de inclinações. Os vícios da mentira, avareza e falsa humildade representam, assim, a contrariedade a este dever. Para Kant, a mentira é “a maior violação do ser humano consigo mesmo” (KANT, 1797, p. 271), e pode ser dividida em externa ou interna.
Através de uma mentira externa um ser humano faz de si mesmo um objeto de desprezo aos olhos dos outros; através de uma mentira interna ele realiza o que é ainda pior: torna a si mesmo desprezível aos seus próprios olhos e viola a dignidade da humanidade em sua própria pessoa. (KANT, 1797, p. 271).
Por avareza, têm-se mais do que