N O Se Desespere
Não se desespere!
Do mal será queimada a semente...
Mario Sergio Cortella
Não me canso de ouvir e meditar sobre os sábios versos cantados um dia por Nelson Cavaquinho na inspiradora Juízo Final (de Elcio Soares e do próprio Nelson Cavaquinho): “O sol há de brilhar mais uma vez./A luz há de chegar aos corações./ Do mal será queimada a semente./ O amor será eterno novamente.” E ele esperançosamente insiste: “É o Juízo Final, a história do bem e do mal./ Quero ter olhos pra ver
/ a maldade desaparecer.”
O melhor, porém, é a boa profecia, pois ao final da música deve ser repetido duas vezes o especial desejo: O amor será eterno novamente.../ O amor será eterno novamente...
Piegas? Não. Romântico, belamente romântico e fundamente vital.
Ora, se a força está aí, no verso final, por que, então, colocar como título desta reflexão Do mal será queimada a semente? Porque os cuidados com a Vida, que podem nos levar à eternidade amorosa, requerem que sejamos ativos na queima da semente da maldade.
Semente? Sim, pois é potência, é possibilidade, é virtual. Somos capazes, porque humanos e livres, da prática deletéria, da ação maldosa, da agressão danosa. Humanos e livres, pulsões lesivas despontam como cenário e vontade em muitos dos nossos atos e omissões. Semente pode “virar” planta ou árvore ou fruto ou flor; semente, como o ovo, contém o novo. Semente pode “virar” praga ou erva daninha ou veneno ou droga lesiva; semente, como o ovo, pode apodrecer ou ser nefasta.
É por isso que o teólogo Leonardo Boff lembra que essa nossa abençoada liberdade, quando se torna amaldiçoada liberdade, precisa passar por uma “transfiguração inteligente”: sem perder a vitalidade que a pulsão agressiva comporta, fazer dessa agressividade potencial uma energia que se transfigure em força positiva e virtuosa.
Em outras palavras, o impulso como benefício, em vez de malefício, ou, mais ainda, como arranque robusto para cuidar da Vida, em vez de perder a reverência a ela e banalizar,