Há, no caso, um fato interessante: no cristianismo, a palavra liberdade aparece muitas vezes. E, em muitas ocasiões, aparece unida a outra, que é mais freqüente ainda: a palavra verdade. Aletheia, verdade, no texto grego do Novo Testamento, aparece muitas vezes ligada a eleutheria ou a seus derivados. Há, portanto, uma conexão sumamente importante: recordemos aquele texto capital do Evangelho de São João - "a verdade vos fará livres" - em que "verdade" e "liberdade" aparecem juntas de um modo central. Penso que o problema da liberdade é absolutamente decisivo: não somente para a filosofia cristã, mas para o cristianismo e em geral. Dentro do cristianismo, é uma clave para muitas questões que, de outro modo, não se tornam claras. Não se esqueçam de que - neste curso - estamos tentando ver até que ponto a chave para a interpretação do cristianismo é a interpretação pessoal: o homem é pessoa!. Esta é a grande descoberta, para a qual tenho empregado uma fórmula: "uma descoberta que não tem sido amplamente pensada, mas que tem sido vivida". Pois é certo que no pensamento cristão, nem sempre tem aparecido a idéia de pessoa e nem sempre tem recebido o devido relevo, mas o cristão, sim, se entende, plenamente, como pessoa. E é justamente na medida em que se vive como pessoa que se pode entender a visão cristã. Não esqueçamos que o conceito de Trindade, que é essencial no cristianismo, consiste precisamente em uma interpretação pessoal de Deus, tão pessoal que é tri-pessoal; isto é: há relações pessoais até dentro da divindade, há uma vida divina que tem uma característica intrinsecamente pessoal. E isto é de capital importânciapossibilidades - que tem diante de si e, portanto, é livre.