Défice externo insustentável
Economista19 julho 2006Comentar
As últimas previsões do Banco de Portugal apontam para um agravamento do défice externo, que deverá roçar os 10% do PIB em 2007, apesar de previsões para o crescimento das exportações, que parecem demasiado optimistas. Esta deterioração deve-se quer à subida do preço do petróleo, quer a um cenário de taxas de juro mais elevadas, que prejudicam uma economia altamente endividada como a nossa. Mas isso não nos deve tranquilizar, porque essa é a realidade a que temos de nos adaptar.
Para além disso, continua a prever-se uma não recuperação da quota de mercado das exportações e um aumento da penetração das importações. Ou seja, após a forte perda de quota que sofremos a partir da segunda metade dos anos 90, continua a não se vislumbrar uma resolução para este problema. Insisto que este défice externo não tem nada de virtuoso. Se ele resultasse de forte investimento externo em bens transaccionáveis, então não teríamos o problema do seu financiamento no curto prazo, nem problema com a sua amortização no longo prazo, já que as exportações (ou substituição de importações) resolveriam o assunto com facilidade. Mas o problema é que este défice externo resulta de um excesso de investimento sobre a (falta de) poupança nacional, quer dos privados quer do Estado. E ainda por cima investimento realizado no sector não transaccionável, o que coloca problemas de financiamento, quer a curto quer a longo prazo.
Assistimos assim a uma trajectória explosiva da dívida externa. Em 1996 ela era apenas de 10% do PIB, um valor que não suscitava a menor preocupação. Em 2001 já estava nos 43%, fruto da desastradíssima política orçamental, que não só estimulou a procura interna como degradou a competitividade. A partir daí as políticas de contenção tiveram, infelizmente, um impacto muito reduzido sobre a competitividade. Em 2005 a dívida externa atingiu os 64% e caminha para os 80% em 2007, devendo