Ces´´ario verde
Em “Cinismos”, é possível conferir a força dos versos do aludido poeta. Formado por cinco tercetos, uma estrofe contendo apenas um verso e por decassílabos, o poema, antes do remate, dá toda a ideia de um amor nos moldes ultra-românticos. Entretanto, o eu-lírico, confirmando o título, encerra, magistralmente, o poema, jogando todo o sofrimento romântico por terra.
Torna-se assim evidente que, nos seus poemas de apresentação, Cesário pretendeu afirmar a sua diferença em relação ao modo de composição romântica. A sua ironia inicial ganhou, progressivamente, contornos mais satíricos nos poemas «Impossível!»; em «Lágrimas» e em «Cinismos», onde o riso do amante é contraposto aos ―soluços consumidos‖ da amada; em «Proh Pudor!», no qual o ―furor impertinente‖ feminino se traduz em fazer cócegas nos pés do homem; em «Manias», onde a vida é definida como ―chula farsa assobiada‖; em «Vaidosa», composição que retrata uma mulher fria, presumida, cheia de amor-próprio, caracterização em tudo oposta à figura angelical45.
A referência ao riso, neste conjunto de poemas, acentua o desajuste da ―camena original‖ de Cesário em relação ao sentimentalismo romântico. Carlos Felipe Moisés deduziu desta contestação irónica um sentido crítico ―que denuncia uma atitude inquieta, insatisfeita, iconoclasta, avessa à acomodação e às poses convencionais‖ (ver Secção 3, nota 33). Esse mesmo sentido é indicado, ainda que indirectamente, por António Quadros46 que, respeitando a divisão de O Livro, se refere à secção «Crise 40
Romanesca» como sendo de inspiração romântica, embora o poeta recorra a comparações inesperadas que impedem o extasiamento do