A volta por cima
Em 1908 muitos dos nomes citados ao longo dos capítulos anteriores estavam produzindo sua Antropologia. Claude Lévi-Strauss estava nascendo. Com ele iriam nascer, também, algumas das mais importantes obras da literatura antropológica.
Cerca de cinqüenta anos depois, ao dar a aula inaugural da cátedra de
Antropologia Social no Collège de France, faria uma homenagem a todos os grandes mestres, fundadores e pioneiros da disciplina. Encerrou, porém, sua palestra falando do
“outro”. No caso, Lévi-Strauss homenageia os “índios dos trópicos e seus semelhantes pelo mundo afora”, que são, para ele, merecedores de muita ternura. Diz-se, ainda, devedor do que aprendeu com eles, e suas últimas palavras, nesta aula, são para lembrar que destes “outros” gostaria de ser, entre nós, “discípulo e testemunha”.
Tudo isso indica muito daquilo que venho procurando demonstrar deste longo caminho que a Antropologia percorreu no sentido da relativização. Em todos os passos dados por esta “ciência da diferença” você, leitor, pode ter observado a existência constante de uma tentativa, quase um compromisso. Trata-se de escapar ao etnocentrismo, a uma percepção do “outro” que fosse centrada no próprio “eu”. Trata- se, acredito, ao longo de todas as diversas formas de se pensar antropologicamente, de uma busca de compreensão do sentido positivo da diferença. Acho que a Antropologia sempre soube, mesmo em seus momentos mais distantes, que conhecer a diferença, não como ameaça a ser destruída, mas como alternativa a ser preservada, seria uma grande contribuição ao patrimônio de esperanças da humanidade.
Foi este o lado da Antropologia que tentei buscar na medida em que o vejo como o principal motor, a força fundamental, que cedo se instaurou como capaz de contrabalançar o etnocentrismo.
O etnocentrismo está calcado em sentimentos fortes como o reforço da identidade do “eu”. Possui, no caso particular da nossa sociedade ocidental, aliados