A VIS O DO C U ENTRE OS GREGOS Jose Ferreira
A VISÃO DO CÉU ENTRE OS GREGOS
A visão dos céus entre os Gregos é assunto vasto que com dificuldade se torna compatível com um tratamento profundo em poucas páginas.
Limitar-me-ei, por isso, a um percurso rápido e superficial, apenas com a indicação dos aspectos que considero mais significativos. Começarei por uma visão mítica, em que se incluem os signos do Zodíaco, e farei eventual alusão a uma ou outra descoberta ou novidade, deixando de parte as referências a
Xenófanes, Heraclito, Parménides, Empédocles, Demócrito, cujos sistemas não contêm grandes inovações e, no essencial, seguem quer o de
Anaximandro, quer o de Anaxímenes, quer o de Anaxágoras. Dispensar-me-ei também de fazer referência às constelações do Zodíaco que são bem conhecidas da maioria, por conviverem com elas nos jornais e revistas, televisão e meios audiovisuais.
Logo nos Poemas Homéricos, os mais antigos textos literários chegados até nós (talvez do séc. VIII a.C.), encontramos as primeiras descrições nocturnas do céu entre os Gregos. No Canto 8 da Ilíada, no fim de um dia de batalha, os Troianos acampam em frente à muralha defensiva dos Aqueus, construída na noite anterior para defenderem os navios de possíveis ataques, e acendem fogueiras para se aquecerem. O poeta compara esses diversos pontos brilhantes das fogueiras com a noite estrelada através deste belo símile
(vv. 553-561):
Orgulhosos, instalam-se para toda a noite aqueles baluartes da guerra. Para eles ardem fogueiras inúmeras.
Tal como no céu cintilam claras as estrelas em volta da lua resplandecente, nos dias em que no ar não há vento, brilham todos os cumes, os altos promontórios e os vales, no céu rasgou-se o éter imenso, todos os astros se vêem, e alegra-se o pastor no seu coração,
— assim entre as naus e a corrente do Xanto brilhavam as fogueiras acesas pelos Troianos defronte de Ílion1.
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1 Tradução de M. H. Rocha Pereira, Hélade (Porto, 92003), p. 43.
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José Ribeiro Ferreira
Estamos perante uma visão