A violência contra o idoso
Por Filomena Cortez de Lima
O progresso inegável da medicina tem permitido que a população idosa alcance padrões de bem-estar nunca vividos antes; medicamentos, tecnologias de diagnóstico, recursos de intervenção sobre o corpo permitem prolongar a saúde, reduzir a doença e, com isso, aumentar a autonomia física do idoso. Porém, as pessoas e instituições não estão preparadas para lidar com as questões sociais e psíquicas típicas do envelhecimento, gerando um conjunto de sofrimentos socialmente impingidos aos idosos. Destaca-se aí a violência, que aumenta muito em todo o mundo. Nos EUA, mais de dois milhões de idosos sofrem maus-tratos a cada ano; dados disponíveis indicam que apenas 19% dos casos chegam a conhecimento público, percebidos por vizinhos ou policiais. Quatro em cada cem idosos canadenses sofrem algum tipo de violência; como é típica nos casos de violência em família, a maioria dos sofrimentos impingidos a idosos no ambiente doméstico não é registrada.
A velhice, antes tida como questão privada, integra-se à agenda pública com a contribuição da Gerontologia. O arcabouço normativo atual se admite, de forma consensual, que os cuidados para com os idosos são de responsabilidade conjunta da família, da sociedade e do Estado; assim, revisita-se a centralidade da família, tendo o Estado como apoio. Parece razoável que o idoso seja destinatário do cuidado prioritário na família, já que ali é que se desenvolvem e exercem os vínculos básicos do indivíduo e se confere identidade ao sujeito. Contudo, não se deve duvidar que naquela pequena célula social se dão inúmeras formas de violência contra seus os membros mais frágeis, entre os quais estão as mulheres, crianças e idosos.
Não se deve, porém, acreditar que a violência dirigida ao idoso é de interesse exclusivo do espaço privado. Se o lar é o epicentro dessas violências, por outro lado há que se reconhecer a participação da sociedade contemporânea, que coloca novas demandas na vida