a violencia simbolica do fundamentalismo religioso
Violência simbólica é um conceito do grande sociólogo francês Pierre Bourdieu. O conceito descreve os mecanismos de opressão entre dominadores e dominados, os primeiros impondo seus valores e culturas sobre os segundos. Para Bourdieu, "a violência simbólica expressa-se na imposição 'legítima' e dissimulada, com a interiorização da cultura dominante, reproduzindo as relações do mundo do trabalho. O dominado não se opõe ao seu opressor, já que não se percebe como vítima desse processo: ao contrário, o oprimido considera a situação natural e inevitável" (Nadime L'Apiccirella). "A manutenção do sistema simbólico de uma sociedade é vital para a sua perpetuação", afirma o sociólogo.O conceito bourdieuano não me sai da cabeça desde que li os comentários dos leitores desta coluna na sua última edição. É impressionante como os dominados incorporam, sustém e reproduzem o discurso e as práticas dos dominados que os fazem sofrer! A chamada homofobia internalizada - precisamos refinar mais e escrever mais sobre este conceito - nasce desta violência simbólica e é imperceptível ao reprodutor da homofobia, pois é considerada por este como "natural e inevitável".Para Bourdieu, as instituições sociais são as grandes perpetuadoras destes mecanismos de opressão, a igreja é um deles. É necessário que o povo LGBT, para romper de vez as algemas que ainda os escraviza, pense mais sobre tais estruturas de dominação e os mecanismos usados por elas com o único objetivo de manter "tudo como sempre foi". É a visão do dominador que deseja, para seu próprio benefício em detrimento e prejuízo para os demais - principalmente as chamadas minorias (negros, judeus, ciganos, deficientes, LGBT) manter "tudo como está". Nós precisamos enxergar o quanto mal causa às pessoas LGBT o discurso religioso de tipo fundamentalista, ao invés de garantir a reprodução do tal discurso - verdadeiro grilhão - na vida de milhares de pessoas, inclusive, nas nossas.