A vida dos macacos
O sertanejo Marino Oliveira cresceu vendo essa curiosa performance da vida selvagem desenrolar-se não muito longe de sua casa, num pedaço de terra de 250 hectares cercado de chapadas vermelhas, no isolado munícipio de Gilbués, extremo sul do Piauí. Sempre achou aquilo curioso, mas, até o encontro com especialistas vindos de longe para estudar o fenômeno, não imaginava a importância de suas observações. "Por aqui, nunca foi novidade para ninguém acostumado a andar no mato ver os macacos usando essas pedras", conta.
Os cientistas demoraram a ter a mesma certeza. Desde a descoberta, em cativeiro, da habilidade especial dos macacos-prego para o uso de ferramentas, há cerca de 20 anos, surgiu a pergunta: tal comportamento poderia ocorrer igualmente na natureza, sem a interferência humana?
"Já era conhecida a capacidade dos chimpanzés selvagens de empregar ferramentas na resolução de tarefas", constata a primatóloga Patrícia Izar, da Universidade de São Paulo. Poucos pesquisadores, contudo, realmente esperavam de um macaco das Américas, como o prego, sofisticação evolutiva similar a de um grande símio africano, separado do ser humano na escala evolutiva por apenas 6 milhões de anos.
A confirmação dessas expectativas tardou até 2003, quando algumas fotos feitas por um fotógrafo de natureza nas terras de Oliveira levaram Patrícia e outras duas primatólogas - Elisabetta Visalberghi, da