A vida de Portugal na Idade Média e a organização social do período
É muito difícil estudarmos textos sem nos preocuparmos com os contextos em que eles foram produzidos. O que chamamos de condições de produção e recepção nos fornecem dados valiosos para entendermos o significado das obras literárias. É claro que as condições de recepção são atualizadas ao longo do tempo o que nos leva a pensar que as obras a que temos acesso hoje adquirem um novo sentido a cada leitura, reatualizam-se de acordo com nossa visão do mundo. De qualquer modo, compreender o sistema de vida do homem medieval é condição indispensável para compreendermos as cantigas trovadorescas. Tradicionalmente, as classes sociais na Idade Média dividiam-se em três: clero, nobreza e povo. Segundo José Hermano Saraiva, em sua História concisa de Portugal, pode-se usar a divisão em imunes, vilãos e semi-servos. Os imunes eram as classes privilegiadas por excelência (clero e nobreza). A imunidade consistia em que nenhuma parte do rendimento de seus bens revertia para a coroa: os proprietários de terras tinham direito a uma parte do rendimento. Essas terras isentas de pagamentos, em virtude da qualidade do proprietários chamavam-se coutos e honras.
O Clero era a única classe, entre a população cristã, que tinha cultura literária. Tinha organização, direito e hierarquia próprias, pois a igreja representava Deus na terra e Deus, o poder religioso, estava acima do poder civil, exercido pelo monarca. O Papado era investido do poder religioso e o Império do poder civil. D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, aliou-se à igreja, na figura do arcebispo de Braga, para garantir a independência de Portugal. Alguns homens e mulheres adotavam uma vida exclusivamente de oração e de trabalho a serviço de Deus. Existiam muitas ordens religiosas e nelas, em geral, o dia devia ser gasto em oração, trabalho árduo e estudo. Os monges viviam juntos numa casa, chamada mosteiro e chegavam a prestar serviços à