A vida cor de rosa
As cores do entardecer
Tradução:
Geraldo Cavalcanti
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Miss Isabelle, Dias Atuais
EU AGI DE FORMA DETESTÁVEL COM DORRIE quando nos vimos pela primeira vez, há uns dez anos ou mais. A pessoa se levanta depois de anos e se esquece de usar seus filtros. Ou então não se importa mais.
Dorrie achou que eu não ligava para a cor de sua pele. Nada mais longe da verdade. Sim, eu estava zangada, mas só porque minha consultora de beleza – cabeleireira é como a chamam hoje em dia, ou stylist, que soa tão metido a besta – partira sem aviso prévio. Eu andei até o fim do salão, um esforço nada insignificante quando se é idoso, e a moça atrás do balcão disse que minha menina de sempre tinha pedido demissão. Fiquei diante dela, piscando os olhos, furiosa, enquanto ela olhava a agenda. Com um sorriso engraçado, ela disse: – Dorrie tem um tempo livre. Ela vai poder cuidar da senhora em um instante.
Em poucos instantes, Dorrie me chamou e, sem dúvida, sua aparência me surpreendeu. Pelo que dava para ver, ela era a única afro-americana no salão. Mas este era o verdadeiro problema: mudança.
Eu não gostava disso. Gente que não sabia como eu gostava do meu cabelo. Gente que amarrava a capa muito apertada no meu pescoço.
Gente que ia embora sem avisar. Eu precisava de um tempo, e acho que isso transpareceu. Se aos 80 anos eu gostava de ter minha rotina – e,
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Julie Kibler quanto mais velha fico, mais isso importa –, imagine agora que estou com quase 90.
Noventa anos. Sou velha o bastante para ser a avó de cabelos brancos de
Dorrie. Ou mais. Isso é óbvio. Mas Dorrie? Ela talvez nem saiba que se tornou para mim a filha que eu nunca tive. Por tanto tempo eu a segui de um salão para outro – quando ela não parava quieta em um só lugar. Hoje ela está mais feliz, tem o próprio salão, mas ela vem a mim. Como faria uma filha.
Quando Dorrie vem, nós sempre conversamos. No começo,