A verdade seria, assim, figuras de linguagem.
NIETZSCHE, FRIEDRICH. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral (Aforismo 1).
In: Obras Incompletas. São Paulo, Abril Cultural, Col. “Os Pensadores”, 1978.
Introdução
Debruçando-se sobre Sobre Verdade e Mentira No Sentido Extra-Moral qualquer leitor, por mais desatento que seja, perceberá, de imediato, o porquê de Nietzsche ser conhecido como o filósofo que construiu sua filosofia à marteladas.
Sobre Verdade e Mentira se compõe de uma sucessão de marteladas certeiras sobre a ordem estabelecida de sua época. Crítico impiedoso da moral vigente, em pleno pessimismo romântico, ao mesmo tempo em que coloca em dúvida a validade da linguagem como expressão adequada de todas as realidades e zomba da pretensão humana de fazer com que o mundo caiba em metáforas, é através da linguagem e das metáforas, abundantes em seu texto, e que usa com maestria, que exprime sua indignação. A linguagem é, sem dúvida, o martelo de Nietzsche.
Ao longo da leitura, deparando-se com enorme quantidade de alegorias e citações que acabam por emprestar ao texto um caráter enigmático, e cujo significado não parece importar a Nietzsche deixar muito claro para o leitor, este pode, em alguns momentos, sentir ímpetos de investigar a fundo a origem de cada imagem, tão instigantes que todas elas são.
É assim que se dá quando lemos “para fugir tão rapidamente quanto o filho de Lessing” e nos sentimos tentados a investigar toda a vida de Lessing para descobrir qual o motivo de seu filho ter sido obrigado a fugir rapidamente. Ou quando lemos: “repousa o homem, na indiferença de seu não-saber e como que pendente em sonhos sobre o dorso de um tigre” e nos atrevemos a elucubrar sobre a possibilidade do tigre representar os perigos aos quais o homem fica à mercê por ser ignorante, mas acabamos por nos curvar à nossa própria ignorância, imaginando ser a imagem do tigre proveniente de alguma obra literária lida por Nietzsche, uma vez que sabemos de sua imensa erudição. E quando