A UTOPIA CAMPONESA
ASPECTOS TEÓRICOS DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO
A UTOPIA CAMPONESA Octávio Ianni
Eu intitulei a minha comunicação de “A Utopia Camponesa”.
A minha idéia neste trabalho é fazer uma reflexão sobre a questão camponesa, tendo em conta compreender por que o campesinato que poucas vezes chega ao poder, ou mais freqüentemente ele aparece co¬mo um elemento na composição do poder, quando tem algum sucesso, mas mais freqüentemente o campesinato que esta presente nas lutas sociais é deslocado dos sistemas de poder. Isto é, é um paradoxo, parece o fato de que o campesinato está presente na história nos países europeus, nos países latino-americanos - para mencionar casos que talvez eu conheça um pouco melhor - e, no entanto, ele não chega a influenciar o poder substantivamente. Ao contrário, ele sempre é deslocado, subordinado ou simplesmente, fica fora do poder. Isso acontece, por exemplo, na Itália com a unificação italiana; isso acontece na Alemanha com a unificação alemã e acontece em vários momentos, em vários países. É claro que, na França, o campesinato que vinha fazendo lutas notáveis nos séculos XVII e XVIII e que está presente no que seria a Revolução Francesa, nos seus desdobramentos, conquista alguma coisa. Mas conquista no nível de camponês, de terra e não chega a estar presente na construção do Estado. Essa questão que está no debate, que é bastante óbvia, continua no presente. Quer dizer, uma continuidade do campesinato nas lutas sociais, nas mais diferentes situações e, no entanto, a presença dele no poder é mínima, quando acontece ou, em geral, é nula. As reivindicações do campesinato são reivindicações que tem a ver com as suas condições de vida e trabalho. O campesinato, em geral, está preocupado com a terra, com as condições de trabalho, com a conquista da terra, a reconquista da ter¬ra, a preservação da terra. E junto com isto está preocupado com o problema da produção e da