A utopia amorosa de jules michelet
Ana Paula Vosne Martins
Seminário da Linha de Pesquisa Intersubjetividade e Pluralidade: reflexões e sentimentos na História - Outubro de 2009
[pic] Retrato de Michelet por Thomas Couture, 1843. Óleo sobre tela.
[pic]Gravura em papel de Athénäis Mialaret.
Introdução
Inverno de 1849. O professor Jules Michelet havia preparado seu curso no Collège de France no qual abordaria um tema no mínimo inusitado para um prestigiado historiador que já se notabilizara por seus estudos sobre a França e a Revolução. Entre 25 de janeiro e 8 de março suas aulas trataram do amor, um sentimento que para o notável professor cristalizava os ideais de felicidade, unidade e harmonia, tanto no plano individual quanto no coletivo. Seus alunos que tanto o admiravam e que haviam se manifestado ruidosamente em seu favor no ano anterior, quando Michelet fora afastado temporariamente de suas funções no Collège, já conheciam algumas das suas idéias sobre este assunto, enunciadas no livro publicado em 1846, “O Povo”, especialmente na terceira parte, “Da libertação pelo amor. A Pátria.” O que seus alunos não sabiam ainda é que o quinquagenário professor estava totalmente apaixonado por Athénäis Mialaret, uma jovem preceptora de 23 anos, praticamente a mesma idade da sua filha Adèle. Ambos vinham se correspondendo desde 1847, ela em Viena, ele em Paris, trocando idéias e compartilhando interesses por vários assuntos, como a educação das mulheres, a história e a revolução libertadora dos povos. Quando Athénäis se instalou definitivamente em Paris em 1848 ambos iniciaram um relacionamento amoroso que transformou a vida do viúvo e solitário professor, como seus alunos puderam perceber. As aulas daquele início de ano reforçaram uma idéia muita acalentada por Michelet: o amor vivido por um casal poderia ser o mesmo sentimento que transformaria a vida social. Unindo a experiência individual com a experiência coletiva a partir do