A universidade no Brasil
Ana Waleska P.C. Mendonça
Departamento de Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Traçar uma visão panorâmica da história do ensino superior no Brasil, com um mínimo de consistência e organicidade, impôs a necessidade de se estabelecer um recorte na abordagem do tema, bem como de se definir um eixo que orientasse a análise desenvolvida.
Foi esta a razão que me levou a fazer algumas op-ções iniciais que gostaria de deixar claras e que já se fazem presentes no próprio título escolhido para este artigo.
Em primeiro lugar, o foco da nossa análise não será o ensino superior simplesmente. Mas irei privilegiar uma determinada forma que esse ensino assume historicamen-te, que é a instituição universitária, mesmo que comece o texto afirmando que a universidade, no sentido aqui atribuído a esse termo, instala-se tardiamente no Brasil.
Para justificar essa escolha, gostaria de fazer mi-nhas as palavras com que Christophe Charles e Jacques Verger introduzem o seu clássico trabalho sobre a histó-ria das universidades. Afirmam os dois autores:
As universidades sempre representaram apenas uma parte do que poderíamos denominar, de modo amplo, ensino superior. [...] Ao decidirmos partir das universidades propria-
mente ditas – sem por isso limitarmo-nos estritamente a elas –, adotamos uma perspectiva particular. Se aceitarmos atribuir à palavra universidade o sentido preciso de “comunidade (mais ou menos) autônoma de mestres e alunos reunidos para asse-gurar o ensino de um determinado número de disciplinas em um nível superior”, parece claro que tal instituição é uma cria-ção específica da civilização ocidental, nascida na Itália, na França e na Inglaterra no início do século XIII. Esse modelo, pelas vicissitudes múltiplas, perdurou até hoje (apesar da per-sistência, não menos duradoura, de formas de ensino superior