A troca

A troca

Estavam todos se reunindo naquela alta colina, a luz azul da lua iluminava a escuridão, porém a neblina não me permitia enxergar o destino. Ferido, os grandes guardas me puxavam pelas correntes, meus pés doídos sangravam e eu só conseguia imaginar o que aconteceria comigo, com todos, por não amar aquela criança linda, que me mandara para o julgamento. Senti o solo estremecer ouvindo um som de cajados e metais batendo com força no chão. Logo, me deparei com enormes seres encapuzados, e de joelhos fiquei, rezando por compaixão. Quando todos estavam prontos para me ouvir, pedi que pensassem se um dia eles já amaram algo ou alguém na vida, a ponto de fazer tudo pelo bem da mesma. Claro que, aquelas criaturas estranhas não pareciam ser as mais sentimentais do mundo, mas acredito que cada ser com alma tenha algo a amar. Comecei a partir dali, contar a minha história. “Tudo o que eu sempre tive, eu mesmo conquistei com muito esforço. Mas nos meus trinta e dois anos, aquele outubro fora o pior. Diagnosticado com Câncer, cada dia ficava mais cinza, mais sofrido, sem vida. Além da doença, eu tinha alguns problemas com bebidas, o que só me matava mais ainda. Por sorte, era casado com alguém que milagrosamente me aturava, seu nome era Sigel, radiante como o raio do sol. Infelizmente, me sentia culpado por não ser mais o marido disposto que eu era quando a conheci, não tínhamos as mesmas aventuras, os velhos costumes, o sexo, a interação, como antigamente. Ela cuidava de mim, e eu a amava tanto. Ela me salvou. Apesar de tudo, um mês antes de descobrir a minha praga fomos presenteados com algo magnífico, e esse presente era o meu filho, que hoje, não se passa de uma lembrança. Eu não sou a pessoa mais supersticiosa do mundo, porém na noite que comecei acreditar em demônios, a cena de ver o Diabo tocando a minha mulher ofuscou todos os meus sentidos, religião, pensamentos, e a lógica de realidade. Senti medo, de uma forma como nunca havia sentido antes,