A TRAVESSIA
Corria o ano de... Depois de guardar, muito bem guardado, o soldadinho de chumbo, Saulo correu ao encontro do irmão mais velho, que estava chamando-o para irem à escola. Todos os dias era a mesma coisa: acordar cedo para venderem bolo, voltar às 11 da manhã, tomar banho e se dirigirem à escola. Era sempre assim! Nesse interregno, Saulo arrumava um tempinho para brincar com o seu soldadinho de chumbo. Era uma espécie de válvula de escape pela falta de tempo que não tinha para brincar. Ele ficava imaginando como seria a vida das outras crianças que não precisavam trabalhar. Está certo, que elas também estudavam, mas tinham o resto da tarde ou da manhã para brincar! Não conseguia entender porque seu pai fora embora e o deixara sozinho com a mãe e o irmão. Olhava para o soldadinho de chumbo, seu companheiro inseparável, aliás, seu único brinquedo, sua única distração, e achava tão bonita aquela roupinha perfeita e certinha, dando ao soldado um aspecto de ser supremo, algo que Saulo desejava muito vir a ser. E ficava vagando com sua imaginação, como seria bom ser um soldado, viajar, conhecer outros lugares, ser respeitado pelas outras pessoas, era tudo que ele queria, era tudo que ele tanto sonhava!
Saulo tinha 10 anos de idade. Franzino, tímido, introspectivo. Seu irmão, Romeu, tinha 12 anos, e assim como Saulo não aparentava ser um menino com um aspecto nutricional satisfatório. No entanto, aquele era mais conformado com as intempéries da vida, e isso o fazia mais esperto e, claro, mais forte no quesito de bater em Saulo quando este não lhe dava as devidas colaborações. O caminho até à escola era longo. E, como a vontade de Saulo para ir estudar era de matar de inveja qualquer bicho-preguiça, seu irmão precisava dar-lhe uns cascudos para que se apressasse e pegasse a bolsa com os cadernos e os livros, bastante velhos, e seguissem, sem demora, para a peregrinação, debaixo de sol forte, ao encontro