A tese de Duhem
Diversas são as teorias epistemológicas que tratam sobre como nosso conhecimento e, em particular, as teorias científicas podem ser entendidas e comparadas com um princípio de realidade. Perguntas sobre "o que podemos de fato saber" remontam à grécia antiga, com Platão e Aristóteles, mas foram mais recentemente resgatadas por Descartes (racionalismo) e Bacon (empirismo). Hume causou rebuliço nessas teorias, Kant tentou resolvê-los, Wittgenstein relacionou-os a problemas linguísticos, Popper desenvolveu a ciência idealizada, Kuhn foi mais pragmático e entendeu o que acontece no mundo real. Por fim e onde nos interessará nesta pequena exposição, Quine resgatou Duhem para tentar estabelecer a relação entre enunciados, proposições e o que de fato se refuta quando se refuta uma teoria. É esta a discussão sob qual pretendo me ater. Comecemos nossa história, portanto, na França, em fins do século XIX.
Pierre Duhem era um físico e filósofo da ciência francês que viveu entre 1861 e 1916. Para Duhem, uma teoria científica é formada por um conjunto de enunciados e apresenta consequências empirícas (CE). Ao contrário, entretanto, do que pensa Popper -- ou seja, que a refutação de uma CE refuta a teoria -- Duhem estabelece que a refutação de uma consequência empírica não refuta necessariamente a teoria. Sendo que a teoria é composta por um conjunto de enunciados, algum deles é que pode ser falso e algum artifício ad hoc pode ser usado para salvar a teoria. O cerne da questão está relacionado ao fato de que, em um experimento, nunca se sabe exatamente o que se está testando e uma teoria é sempre testada em blocos, estando vinculada a um conjunto determinado de pressupostos.
Um exemplo disto pode ser observado quando consideramos a descoberta de que Urano não segue exatamente o caminho predito para um planeta, segundo a física Newtoniana. Entretanto, essa anomalia foi corretamente entendida como sendo a evidência que era necessária