A TERAPIA DE FAMÍLIA NO CONTEXTO COMUNITÁRIO
Ao propor o diálogo da Psicologia Social Comunitária com a Psicologia Clínica, é possível pensar a clínica como uma abordagem, uma forma de olhar, e não como uma área. Barbier (1985) explica a clínica como um procedimento de observação direta e minuciosa que inclui a exploração e compreensão dos significados presentes nas ações do sujeito, bem como dos grupos de sujeitos, buscando aprender o sentido que leva a determinadas direções de relacionamentos, conflitos e decisões. O foco é a mudança, prevenção ou melhoria de uma determinada situação, no sentido de construção de novas respostas. A complexidade presente nesse contexto de comunidade exige que utilizemos diferentes contribuições teóricas, sem reduzi-las, mas reconhecendo os aspectos convergentes e divergentes presentes entre elas. Vasconcellos (2002) apresenta uma perspectiva de que as relações na comunidade estão permeadas por relações de poder, e que esse poder está intimamente vinculado ao pertencimento, à classe social e ao momento histórico.
Conceituamos comunidade como dimensão espaço/temporal na qual os sujeitos são compreendidos com foco em suas relações, sendo constituídos em uma constante dialética entre individual e coletivo. A comunidade se expressa como espaço de construção de cidadania, no qual todas as falas são legítimas (Freitas, 2000). Esse conceito, que pode parecer utópico, é tomado nessa perspectiva para que marque o desafio de atuar focando as relações entre indivíduos, e entre estes e a sociedade, em uma busca de valorização das relações comunitárias que visem o bem comum (Ricci, 2003).
O terapeuta familiar tem a importante missão na atualidade de desenvolver ações com famílias, visando intervir em seu sofrimento, e que são complementares em seus paradigmas clínicos com expressão no ambiente sócio-comunitário. O sistema familiar propicia o âmbito dessa experiência porque oferece conflitos de natureza pessoal (a baixa