A tecnologia social e seus desafios
Renato Dagnino*
Este capítulo explora o processo recente, e em certo sentido único, que se expande rapidamente no Brasil, de conceber tecnologias para a inclusão social (IS). Seu enfoque, interdisciplinar, orientado por problema e para a elaboração de políticas, como convém ao tema, é balizado pelo campo dos Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (ESCT). Inicia-se com uma pergunta: por que é necessário conceber tecnologia social (TS)? Essa pergunta1 pode ser preliminarmente respondida pela menção a duas razões. Primeiro, porque se considera que a tecnologia convencional (TC), a tecnologia que hoje existe, que a empresa privada utiliza, não é adequada para a IS. Ou seja, existem aspectos na TC, crescentemente eficiente para os propósitos de maximização do lucro privado para os quais é desenvolvida nas empresas, que limitam sua eficácia para a IS. Segundo, porque se percebe que as instituições públicas envol-
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Professor titular da Universidade de Campinas (Unicamp). Este capítulo se origina da “desgravação” de uma apresentação realizada para os participantes do processo de construção da Rede de Tecnologia Social (RTS). Foi mantida a linguagem informal usada e foram incorporados os quadros projetados aos quais o capítulo faz referência. Foi também introduzida a indicação bibliográfica referente aos autores aludidos. Nas notas de rodapé que se seguem, indico trabalhos recentes que possibilitam aos leitores interessados melhor fundamentação dos argumentos apresentados.
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Tecnologia social: uma estratégia para o desenvolvimento
vidas com a geração de conhecimento científico e tecnológico (universidades, centros de pesquisa etc.) não parecem estar ainda plenamente capacitadas para desenvolver uma tecnologia capaz de viabilizar a IS e tornar auto-sustentáveis os empreendimentos autogestionários que ela deverá alavancar. Isso torna necessário um processo de sensibilização dessas organizações e de outras,