A taxa de cambio em formção economica do brasil
1. Introdução A preocupação com a taxa de câmbio tornou-se um dos traços fortes da economia do desenvolvimento de Celso Furtado, por diversas e compreensíveis razões. Como se sabe, imediatamente após a conclusão do programa de doutoramento em Paris, Furtado integrou-se aos quadros da CEPAL. Um dos pontos fortes dos diagnósticos da CEPAL sobre o atraso econômico latinoamericano era a tese de deterioração dos termos de troca, elaborada por Raul Prebisch. De modo mais amplo, Prebisch propunha que a teoria dominante do comércio internacional não constituía uma boa base para analisarse a economia latinoamericana.1 Ao longo de toda a década de 1950 travou-se no continente uma controvérsia intensa sobre o comércio internacional, teoria e aplicações, centrada nas teses de Prebisch. Furtado, como boa parte do staff técnico da CEPAL, envolveu-se nos debates e difundiu seus termos em diversos textos. Além disso, inflação e constrangimentos cambiais foram os dois principais temas do cenário econômico brasileiro no pós-guerra. Devido à alternância de políticas cambiais nas décadas de 1940 e 1950, o Brasil tornou-se uma espécie de campo de experimentação na área.2 A diversidade de mecanismos de controle cambial proporcionou aos economistas brasileiros um refinamento na compreensão das questões cambiais e de suas implicações para a continuidade da industrialização. Vê-se, portanto, que por diversos motivos – influência das idéias de Prebisch, debates em política econômica, premência das questões cambiais no pós-guerra – Furtado tornara-se um especialista em taxa de câmbio quando veio a redigir Formação Econômica do Brasil, em 1958.3 A questão é saber como o tratamento da temática cambial foi incorporado a este “...esboço do processo histórico de formação da economia brasileira” (FEB,21);4 vale dizer, em que medida e com que nuances a questão cambial aparece em uma obra que não é dedicada ao debate de políticas econômicas