A sólida felicidade estóica para uma modernidade líquida
Para Sponville e Sêneca, influenciados pela escola estóica, limitar as expectativas positivas e negativas pode garantir uma vida mais feliz
POR ALEXEY DODSWORTH MAGNAVITA
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Em seu clássico A divina comédia, Dante Alighieri descreve os portais do inferno como sendo marcados por um aviso que conclama aos visitantes a abandonar toda e qualquer forma de esperança. De fato, a esperança parece ter adquirido um estatuto tão elevado na coletividade humana, que a simples idéia de perdê-la parece remeter a um estado infernal. Nem sempre foi assim, contudo. E, conforme alerta o filósofo francês, André Comte-Sponville, ao longo de sua vasta obra, vale a pena assumir uma postura crítica no que diz respeito ao apreço que o moderno senso comum cultiva por esta tão propagandeada palavra: esperança. Sponville não inaugura uma abordagem ousada ao criticar a esperança. Trata-se, para sermos honestos com a história, do resgate de uma abordagem por demais antiga. Para entendermos o espírito dessa crítica sponvilliana à passividade da esperança, faz-se necessário um retorno no tempo, uma volta ao rico período helenístico da Filosofia, fase em que despontaram o ceticismo, o epicurismo e o estoicismo. De diferentes maneiras, cada uma dessas três escolas se ocupou do tema “felicidade”. E, dessa forma, cumpriram aquele que, segundo Sponville, assumindo ele mesmo uma definição helenística, é o grande papel da Filosofia: “A Filosofia é uma atividade que, por discursos e raciocínios, nos proporciona uma vida feliz” (Afelicidade, desesperadamente – ed. Martins Fontes). Não se trata,