A sociologia da ciência em Robert Merton e Pierre Bourdieu
O debate acerca do que é ciência e qual é sua natureza perpassa um longo período histórico, tendo diversos significados ao longo do tempo. Tradicionalmente, é tratada em seu viés normativo, ou seja, como deveria ser. A ciência moderna, datada aproximadamente do século XVII, é uma herança do método experimental inaugurado com Galileu Galilei, que prezava a autonomia da pesquisa científica, sua mensurabilidade e controle matemático. A especulação sobre a substância das coisas, como feita por filósofos naturais como Aristóteles, dá espaço à busca pela função, pelo controle e pela experimentação. Nesse sentido, o racionalismo descartiano, o empirismo de Bacon, e o experimentalismo abrem portas para a legitimação do modelo de ciência tal qual a concebemos atualmente. Predição, domínio da natureza, rigor e consistência lógica, conhecimento empiricamente comprovável e que se acumulam pelo tempo são noções aceitas para a boa prática da ciência. A autonomia suprarracional, ou seja, o aspecto cognitivo como expressão máxima da eficácia científica, é a fundamentação que a filosofia da ciência e sua epistemologia dão para a validade das verdades científicas. A priori, a investigação científica nada teria de conteúdo social, estando no domínio da mente. Entretanto, os dados empíricos observados por historiadores da ciência e sociólogos passam a dar uma visão que hora se inclina à autonomia epistemológica, hora cai para lados mais obscuros relativistas, como podemos ver nos trabalhos de Thomas Kuhn de um lado e Bruno Latour de outro. O pioneiro na investigação sociológica da ciência foi Robert Merton, que assume essa posição ao observar a relação entre as estruturas sociais e a atividade científica. Busca compreender de que forma as ações dos cientistas estão conectadas com o âmbito cultural, através de seu conceito de ethos científico, abrindo portas para que outros pudessem também se debruçar sobre o tema. Entre estes, está Pierre Bourdieu, que