A sociedade feudal
A Sociedade Feudal (1939-1940), de Marc Bloch, representa uma contribuição essencial para a adequada compreensão do feudalismo, fenômeno complexo que os marxistas tentaram reduzir a uma verdadeira caricatura. Adicionalmente, revolucionou a periodização da Idade Média.
Convencionou-se denominar de Idade Média a um período extremamente dilatado, abrangendo cerca de um milênio (da segunda metade do século V, quando se consuma o término do Império Romano, e a fase de decadência do Papado, que começa em fins do século XV). Além disto, foi englobadamente classificada como Idade das Trevas, o que não corresponde à verdade, sobretudo quando pretende referir-se à atuação da Igreja Católica, que variou muito ao longo do tempo.
Partindo de uma rigorosa conceituação de feudalismo, a obra de Bloch permitiu situar o seu início com a reconstituição do Sacro Império, no século X. Carlos Magno (742-814) reintroduz a idéia de Império, agora não apenas Romano mas Romano-Germânico. O Sacro Império de Carlos Magno desmorona no próprio século IX e a Europa assiste a novas incursões de húngaros, normandos e árabes. Considera-se que esta seja uma nova fase da barbárie, fome e peste. A unidade religiosa parece abalada. Semelhante quadro prolonga-se até aproximadamente os meados do século X.
A reconstituição do Sacro Império é obra de Oto I, coroado em 962. A nova onda de invasões bárbaras é detida, eliminadas as incursões dos bandos sarracenos, os normandos se estabelecem de forma estável no Norte da França, os húngaros, poloneses, boêmios e escandinavos aderem ao cristianismo. Recomposta a situação, inicia-se uma fase de prosperidade que desemboca na chamada Alta Idade Média dos séculos XII e XIII, de grande florescimento cultural.
A decadência começa de fato com a decomposição do Papado, que a notável historiadora Bárbara Tuchman (1912-1989) faz recair no período 1470-1530.
A noção habitual de feudalismo consiste em compreendê-lo