a sociedade contra o estado

617 palavras 3 páginas
Clastres promove uma "dessubstancialização" do Estado, que não é "o Eliseu, a Casa Branca, o Kremlin", mas um "acionamento efetivo da relação de poder". Não há por que acreditar, então, que ele tenha, num pudor durkheimiano, reificado a sociedade. Ainda que não recorra ao conceito, parece-nos que existe já socialidade em Clastres: a socialidade contra o Estado, portanto. Ao explorar, nas três partes deste estudo, a maneira como Clastres encara a "sociedade", o "Estado" e o "contra", acreditamos que, com o auxílio de sua etnografia, encontramos indicações de como enfrentar alguns dos impasses da antropologia; como o de abandonar o individualismo metodológico sem cair num holismo transcendental e vice-versa; o de construir modelos de intencionalidade sem sujeitos; o de pensar a relação social sem, por esta démarche, implicar necessariamente a existência da "sociedade"; e, finalmente, o de mostrar como a "objetividade" da socialidade pode operar por meio da "subjetividade" das pessoas-em-interação.
Um aspecto da constituição das sociedades vinha sendo usado muito categoricamente como parâmetro para separá-las em dois tipos: a existência ou não de um Estado. No campo da Antropologia esse pressuposto foi aceito durante algum tempo, mas ficou difícil fazê-lo se sustentar em pé depois que Pierre Clastres (1934-1977) publicou os ensaios reunidos no livro A sociedade contra o Estado, relançado esse ano pela editora Cosac Naify na coleção Portátil.

Clastres é virulento em suas críticas: mostra como tomar a existência de um Estado cristalizado e instituído como critério para “medir” o grau de evolução de uma sociedade é uma postura etnocêntrica errônea e enganadora. O autor, no entanto, não somente afirma tal, mas busca nas assim chamadas “sociedades primitivas” da América do Sul o argumento empírico para sustentar suas investidas. A não existência de Estado na grande maioria dos povos indígenas sul-americanos (e mesmo os da América Central e do Norte) não os tornava

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