a sociedade atual
Quando Yeda Linhares e Francisco Carlos Teixeira da Silva avaliam o debate sobre a agricultura no Brasil do final dos anos 1950 e início dos 1960, apontam para a fragilidade dos projetos em discussão, debilidade esta que atribuem ao fato de os mesmos não estarem ancorados em bons diagnósticos sobre a realidade brasileira. Argumentam que a discussão sobre a mudança social, apesar do nível de politização que atingiu, foi limitada pelo desconhecimento da realidade efetiva e pelo caráter dogmático que marcava o debate(LINHARES & TEIXEIRA DA SILVA, 1981).
É esse um dos temas da discussão que envolveu Florestan Fernandes e Guerreiro Ramos, no mesmo período, a propósito da situação, condições de produção e definição das tarefas da sociologia no Brasil. O sociólogo paulista insistia no fato de que só a aplicação de metodologia que possibilitasse o conhecimento da realidade e a reflexão sobre os mecanismos perpetuadores das relações sociais desiguais no Brasil permitiria uma solução política que associasse democracia política e desenvolvimento econômico. Essa perspectiva analítica era vista pelo cientista social baiano, atuando no Rio de Janeiro, como a possibilidade de um transplante teórico-metodológico que prejudicaria uma real visão sobre o país e, consequentemente, a elaboração de um projeto nacional autônomo. O debate coloca, em relação ao problema, dois argumentos não excludentes e não redutíveis, pois perspectivas importantes para a compreensão do país e do trabalho intelectual aqui realizado são colocadas pelos dois autores1.
É certo que dificuldades de várias ordens impediam, naquele momento, que se fizessem estudos acurados sobre as mudanças em curso e os obstáculos à tomada de decisões que alterassem os perfis econômico, social, cultural e político do país. Florestan já apontara os limites do desenvolvimento da sociologia porque constrangida a pesquisas limitadas pela falta de financiamento de órgãos estatais