A sagração da primavera
Esta primeira apresentação representou um momento chave no contexto do modernismo, tanto nos domínios da música, da dança e da arte plástica, criando um novo rumo na história da Arte Moderna. A Sagração da Primavera rompeu com as convenções musicais da altura e com os padrões do ballet clássico.
Este bailado composto por dois atos, notoriamente ligado à interpretação arrojada de Nijinski, e que tendo criado grande polémica no início do século XX pela modernidade e sensualidade, foi inspirado nas lendas da Rússia Pagã, evocando os ritos ancestrais que aproximam o homem à natureza e a uma dimensão espiritual.
Na Sagração da Primavera, os dançarinos golpeiam o solo com os pés, contrariando as regras clássicas. No final acontece um dos solos mais longos e exigentes da dança moderna: a eleita, então imóvel, exterioriza com contorções o seu terror diante da morte. Acelarando os seus movimentos até a convulsão final, quando gira sobre si mesma, cai morta e é erguida ao céu, em oferenda ao deus da primavera.
Nos últimos cem anos este bailado tem sido um dos mais revisitados do repertório ocidental, cujo percurso tem sido marcado por propostas de vários coreógrafos.
Em 1959, com 32 anos, Maurice Béjart consagrou-se com uma coreografia despida de adereços pitorescos e um elenco formado por bailarinos das mais diferentes etnias, transformando a história num hino ao amor universal e apresentando a união profunda entre homem e mulher. Para Béjart, o encontro carnal entre um homem e uma mulher simbolizou, também, a união do céu e da terra, a dança de vida e morte - "eterna como a primavera", como ele dizia.
Esta abordagem da condição feminina também foi uma