A saga de um povo brasileiro

A Travessia
Relata a autora que: Dentro dos gabinetes dos governos e nas salas das famílias, uma grande história foi vivida. Começa a hiperinflação desmoralizante, o ultraje do confisco do dinheiro poupado, a paciência de aprender e reaprender as regras e manuais dos padrões monetários mutantes. Nas ruas da Alfândega e Candelária no Rio todos negociavam freneticamente. Isso marcaria os primeiros anos do novo regime. Marcelo de Paiva Abreu, o organizador da obra, registra: “O centenário da República está sendo comemorado em meio ao que é provavelmente a maior crise da história econômica do Brasil independente.” Ao final do ajuste veio o primeiro período de milagre econômico. A Revolução de 30 constrói um novo país sobre as cinzas econômicas da crise externa e do café. De novo, ministros que queriam controlar as causas dos problemas eram trocados por outros que propunham política de expansão maior do gasto e do risco. O dinheiro dos trabalhadores era corrigido por uma projeção de inflação que era sempre superada. À custa deles foi feito o ajuste que derrubou os índices no começo do governo militar.
Em meados de 1970 começaram a aparecer nas artes os primeiros reclamos da perda de valor do dinheiro, e o país cantou com Paulinho da Viola a música Pecado capital, tema da novela de 1975 cujo verso mais famoso era “Dinheiro na mão é vendaval”.
Na década de 1980, o Brasil viu, então, a força destruidora do inimigo. No dia 28 de fevereiro do ano de 1986, o Brasil acordou com dois ministros do novo governo civil, na televisão, avisando que não haveria mais inflação. Foi nesse tempo que se viu pela primeira vez a dimensão do compromisso do povo brasileiro em derrotar o inimigo. A cada nova tentativa, a esperança tomava conta dos cidadãos. As famílias sofreram nos planos. Os jornais eram parte da resistência. O desafio era acabar com a correção monetária que, pensada no começo do regime militar como remédio, tinha virado veneno. A virada dos anos 1980 para os 1990 foi