A revolução Industrial
Sanduíche de música e literatura
Para termos uma idéia do que faz a indústria cultural, vamos tomar como exemplo uma música erudita e examinar como a massificação transforma um prato original, rico e saboroso em apenas um ingrediente de um grande sanduíche, distribuído nos quatro cantos do mundo. É a obra de arte transformada numa mercadoria sem qualidade.
Podemos ver e ouvir a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP) interpretando uma obra de Mozart ou de qualquer outro autor erudito, com todos os instrumentos, para que ela seja fruída em seu máximo esplendor. Mas, se essa mesma obra for filmada e exibida no cinema com todos os seus componentes, a experiência de quem assiste a ela já será deferente. E a sensação será outra se a mesma apresentação for assistida em casa, em DVD.
Muitas pessoas não apreciam música erudita, pois normalmente a obra é longa, mas gostam de um ou outro trecho mais conhecido. Podem então ouvir no rádio ou comprar um CD com uma parte da obra, mas não toda ela. Temos aí mais um corte das possibilidades iniciais. Esse CD pode ser ouvido em casa ou no carro, e em cada caso as sensações serão diferentes. Se a opção for comprar um CD com os movimentos mais conhecidos interpretados por apenas um pianista a sensação será ainda outra:
O indivíduo que compra esse último CD ou que ouve no rádio essa interpretação vai ter a certeza de estar ouvindo uma obra de Mozart e pode até sair assobiando pelas ruas as partes que "comprou". Mas o que ouviu é algo bem diferente da obra original.
Observa-se fato semelhante quando uma obra literária de grande expressão, como a de Machado de Assis, por exemplo, é reduzida a pedaços ou a resumos, como os difundidos nos cursinhos para que os alunos obtenham alguma informação que lhes permita resolver as questões propostas nos vestibulares. Eles não terão o conhecimento ou a sensação que decorre da leitura integral de um livro desse autor, mas até poderão "achar" que leram e conhecem Machado